Volantes de bom passe como meias abertos no 4-2-3-1: uma tendência tática no Brasil?
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Pense no seguinte problema: você tem um meia de passe refinado, mas um time que se compacta pouco. Seus laterais são muito ofensivos e apoiam sempre. Como unir as características desses 2 jogadores sem prejudicar seu time?
É cedo - afinal o Brasileirão acabou de começar, mas os Estaduais mostraram, em pequenas gotas, uma tendência tática no Brasil: o uso de volantes e meias criativos em algum lado do 4-2-3-1, com a mesma dinâmica: eles viram construtores do jogo com a bola.
O exemplo mais claro é Julio dos Santos no Vasco. Como você leu aqui, o time de Doriva começou com Montoya e Bernardo no 4-2-3-1, mas Doriva logo constatou o problema: faltava criatividade. O técnico cruzmaltino posicionou Julio dos Santos aberto pela direita, mas o orientou a buscar o jogo por dentro.
Se o jogador sai de seu posicionamento inicial, ele deixa um espaço vazio. E esse buraco é ocupado por Madson, lateral veloz e de vocação ofensiva. É uma troca de posição - o que não altera a função - que coloca mais um jogador em condições de receber o refinado passe de Julio.
O sufoco aplicado pelos reservas do Atlético-MG no badalado Palmeiras não foi obra do acaso. Cárdenas, contratação de impacto, estava lá. E atuou aberto pela direita do 4-2-3-1 de Levir Culpi, mas com dinâmica de armador: time com a posse da bola? Ele procurava os volantes para ditar o ritmo do jogo e já ligava o ofensivo Patric (que fez gol). Perdeu a posse? Ele voltava para o cantinho direito.
Ricardo Drubscky é um técnico que preza pelo conceito de jogo, não pelos números. Causou espanto o Flu com Pierre, Edson e Jean no sábado. 3 volantes!? Não! Jean funcionou como meia aberto pela esquerda, mas sua função era clara: articulação das jogadas. Ele buscava a bola e diversas vezes acionava o lateral que ultrapassava , como na imagem.
A esse ponto você deve estar se perguntando: "mas pra quê colocar um meia aberto quando poderia colocar ele atrás dos meias?". E sim, em outras equipes, Cárdenas e Julio dos Santos jogaram como o que diríamos como volantes. Mas as coisas aqui não são simples.
Primeiro porque o lateral brasileiro é quase um ponta: muito ataque e técnica, mas pouca obediência defensiva. Segundo porque um problema daqui é a transição ofensiva: como levar a bola ao ataque com qualidade quando os volantes não enxergam bem o jogo? Agora una as duas coisas: por que não aproveitar o passe desse meia perto dos volantes, onde a jogada começa, e abrir um corredor para o lateral ofensivo?
Retrógrado? Atualizado? Bom? Ruim? Deixemos o julgamento com você. O fato é: Doriva, Levir, Drubscky e vários outros técnicos "fazem do limão uma limonada" ao verem problemas e usarem a criatividade, não a norma ou regra, para solucionar. E criatividade é sempre bom.
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