A história brasileira é uma monótona repetição de lamentáveis episódios. De sucessivas tentativas de “viradas de mesa”. A nossa atrasada elite ainda habita a “Casa Grande“.
Ela controla o judiciário, tem maioria nos legislativos, manipula a informação através de um oligopólio midiático que não informa, deforma. A opinião pública é manipulada, bombardeada por versões caolhas, que atendem aos interesses muito particulares dos donos da mídia e dos que ela representa.
Uma elite que não permite o avanço da reforma agrária, que se recusa reformar um vergonhoso sistema tributário, altamente regressivo, que poupa o rico e cobra do pobre.
Que ainda se queixa do peso da carga tributária do país quando suas empresas sonegam, ano após ano, cerca de 10% do PIB do país, algo em torno de 500 bilhões de reais.
Que se recusa a abrir a “caixa preta” de um poder judiciário ultraconservador, lento, caro, que presta maus serviços à população, que não se submete a controles e que faz o que quer, invadindo, inclusive, competências dos outros poderes.
Uma elite que mantém um sistema político-eleitoral sustentado pelo financiamento privado de campanha, porta aberta para a corrupção. Uma elite carola, cínica, preconceituosa, que odeia o pobre e que se sente incomodada com a melhora dos padrões de vida da classe média baixa.
Que se posiciona – juntamente com a ampla maioria de uma classe média alta, argentária -, contra os programas sociais que minimamente contribuem para melhorar as condições de vida de milhões e milhões de pessoas que vivem na pobreza.
Uma elite que nunca teve um projeto de construção nacional, que sempre andou a reboque dos interesses internacionais comandados pelos Estados Unidos.
Que, para revolta e horror do velho Ariano Suassuna, repete incessantemente novos e velhos anglicanismos e outros estrangeirismos.
Que não valoriza, não tem orgulho do que é nosso. Que se orgulha disso, e que por isso, se acha moderna e chique. Uma Casa Grande entreguista, privatista, mambembe.
Que repudiou Getúlio, Lula e agora Dilma porque não aceita e não permite sequer os tímidos avanços necessários à construção de uma frágil social-democracia, que engatinha no Brasil. Uma elite adepta fervorosa do “deus livre mercado”, que defende com unhas e dentes seus privilégios, que cada vez mais concentram a renda e a riqueza do país.
Nos momentos de crise, seu braço armado se arvora em direção política do país. O exército proclamou a República e elegeu três presidentes militares entre 1889 e 1930: os marechais Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto e Hermes da Fonseca.
Em 1930 os militares, após alguns períodos presidenciais ocupados por civis, passam novamente a ter destacado protagonismo.
Liderados por Eduardo Gomes, Ernani do Amaral Peixoto, Hermes da Fonseca Filho, Siqueira Campos, Juarez Távora, dentre outros, organizaram o tenentismo, um movimento insurrecional que levou à presidência Getúlio Vargas.
A maioria dos tenentes, poucos anos depois, trocaram de lado, passaram à oposição de Vargas e acabaram por apeá-lo do poder em 1945.
Eduardo Gomes, candidato à presidência na eleição de 1946, pela UDN é derrotado por Gaspar Dutra, ex-ministro da guerra de Getúlio que liderara um movimento para depô-lo. Por essas ironias da história, o apoio de Vargas foi fundamental para a eleição do seu algoz, o general Dutra.
Na eleição seguinte, em 1950, Eduardo Gomes foi novamente o candidato escolhido pela UDN, partido que representava o que de mais atrasado e retrógrado existia na política brasileira.
Foi fragorosamente derrotado por Getúlio. Em 1955 Juarez Távora, também da UDN, perde as eleições, desta vez se elege Juscelino Kubitschek. A UDN, ao perder sucessivas disputas eleitorais, tentou sempre subverter as regras do jogo político através do golpe.
Em 1955 não conseguiu, Juscelino assumiu e governou até 1960. Alguns anos depois foi bem sucedida, finalmente: 1964 reeditou o episódio de agosto de 1954, que resultou no suicídio de Vargas.
As forças da reação, com o apoio da mídia e da igreja católica conseguiram derrubar Jango Goulart, entregando o poder aos militares. A ditadura militar durou 21 anos num período em que o país foi governado com “mão de ferro” por dois marechais e três generais do exército.
Trinta anos depois e por coincidência num mês de março, o PSDB, o DEM, o PPS e o Solidariedade (SD) organizam dia 15, domingo próximo, passeatas nas principais cidades brasileiras pedindo o impeachment da presidenta eleita. A mídia, desesperadamente, tenta recriar o clima de 1954 (“um mar de lama invadiu o Catete”) ou de 1963/1964 (desta vez a alegação foi a sinistra e iminente “ameaça comunista”).
Final de 2014 e início de 2015: depois do mensalão e de um ano de investigações da Lava Jato se tenta criar um clima (falso!!) de que “um mar de corrupção ameaça a Petrobras e o Brasil, tudo sob os olhos complacentes do governo”.
A tentativa de golpe é engrossada por um ódio fermentado – e multiplicado nos últimos tempos -, por uma classe média alta preconceituosa, que odeia o popular, o pobre, cuja ideologia beira o fascismo. Tenta-se articular uma grande greve nacional dos caminhoneiros.
O golpe do desabastecimento felizmente fracassa, muito embora tenha sido meticulosamente montado e tenha contado, fala-se, com o financiamento do homem mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann, o dono da AMBEV. E que, certamente, contou com o apoio de muitos outros empresários cujos nomes ficaram no anonimato.
Apesar de todas dificuldades do momento e de alguns graves equívocos deste início do segundo governo Dilma, não há clima nem condições objetivas no país para que dê certo esta nova tentativa de golpe montado pela direita.