quinta-feira, 19 de março de 2015

Delatores relacionam tesoureiro do PT a esquema investigado na Lava Jat


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Em depoimentos, eles disseram que Vaccari pediu doações de origem ilícita.Defesa diz que ele 'repudia' teor das delações e que doações foram legais.

Dois novos depoimentos de executivos de empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato relacionam o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, ao desvio de dinheiro em obras da Petrobras.
Gerson Almada, um dos presos da Lava Jato e ex-vice-presidente da Engevix, e Eduardo Leite, vice-presidente da construtora Camargo Corrêa, relataram aos investigadores da Lava Jato contatos com Vaccari nos quais o tesoureiro teria solicitado doações ao partido oriundas de propinas obtidas em contratos das empresas com a Petrobras.
A defesa de João Vaccari Neto declarou que ele repudia as referências feitas pelos dois delatores e que o tesoureiro do PT não recebeu nem solicitou contribuições de origem ilícita para o PT.
Segundo a defesa, as doações solicitadas por Vaccari foram realizadas por meio de depósitos bancários, com toda a transparência e a devida prestação de contas às autoridades.
Nesta terça-feira, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que Vaccari, que integra a Comissão Executiva Nacional da legenda, é "inocente até que se prove o contrário" e, enquanto não houver condenação, nenhum filiado será afastado do partido.
Gerson Almada
Ex-vice-presidente da empreiteira Engevix e preso desde novembro, Gerson Almada disse que tinha contribuições a dar à investigação e pediu para ser ouvido pela Justiça.

Ele afirmou que, em reuniõs com executivos das empreiteiras, eram feitos acertos entre as empresas que faziam obras para a Petrobras, o chamado cartel.
"Teremos um quadro de obras a serem realizadas. Quem tem interesse na obra tal? 'Eu tenho interesse', 'eu tenho e tal, obra tal'. Logicamente, as obras maiores e melhores todo mundo queria. Entao muito dificil foi ter realmente concorrências que funcionaram 100%", disse.

Almada citou várias obras em que pagou propina, como a da refinaria Arthur Bernardes, em Cubatão (SP), e disse que, para os diretores da Petrobras, não importava quem iria ganhar a licitação porque o vencedor teria de pagar propina.

"Eles estavam tranquilos com qualquer um que ganhasse. A gente entrava numa rodovia chamada Petrobras e tem que pagar o pedágio. Você está trafegando e teria que pagar pedágio", afirmou.

Gerson Almada relatou pagamentos de propina em obras de duas diretorias: a de Abastecimento e a de Serviços.

"Eu já tinha esse vínculo com os contratos da Diretoria de Serviços. Então, em outros contratos que não eram de abastecimento já existia um tipo de relacionamento partidário de pessoas que faziam o meio de campo entre eu, a empresa e os partidos", declarou.

Em contratos da Diretoria de Serviços da Petrobras, o contato era Milton Pascowitch, investigado na Operação Lava Jato por suspeita de ser um dos operadores do esquema de corrupção na estatal. O Jornal Nacional não conseguiu contato com Pascowitch.

"O Milton veio falar: 'Olha, Gerson, acho que você precisa manter um relacionamento com o partido, você precisa manter um relacionamento com o cliente e eu me proponho a fazer isso, eu tenho condição de fazer'. Ótimo! Seja bem vindo", afirmou Almada.
Indagado durante o depoimento pelo juiz Sérgio Moro sobre o partido ao qual estava se referindo, respondeu: "Partido dos Trabalhadores". Almada relatou que fez repasses de propina que variavam entre 0,5% e 1% do valor dos contratos com a Diretoria de Serviços. Segundo ele, a pedido de Pascowitch, ele repassou dinheiro para campanhas eleitorais do PT e disse fez acertos com o tesoureiro João Vaccari Neto.
"Como ele [Pascowitch] tinha um relacionamento com o PT na Diretoria de Serviços, ele também trazia pedidos não vinculados a obras, mas vinculados a doações para partidos nas épocas das eleições ou em dificuldades de caixa do partido. Teve um ano que eu doei - era um ano eleitoral -, fiz duas doações para ao PT. Essas doaçoes eram ajustadas com João Vaccari e, antes, Paulo Pereira.

Logo depois do depoimento, os advogados de Gerson Almada apresentaram um pedido de liberdade para ele, que está preso na Superintendencia da Polícia Federal, em Curitiba. Segundo a defesa do executivo, Almada contribuiu para a descoberta da verdade e por isso deveria ser solto. Almada renunciou ao cargo de vice-presidente da Engevix no último dia 15 de janeiro e não exerce mais nenhum cargo na empresa.

Eduardo Leite
As supostas doações ao PT foram citadas também pelo vice-presidente da construtora Camargo Corrêa, Eduardo Leite, que fez acordo de delação premiada com o Ministério Público.

Em depoimento, Leite disse que, "por volta de 2010", foi apresentado a João Vaccari Neto em um restaurante de São Paulo. Depois, Vaccari o procurou e marcou um jantar. Nesse encontro, segundo relatou, o tesoureiro do PT disse que tinha conhecimento de que a Camargo Corrêa estava "atrasada" com seus compromissos, isto é, pagamentos de vantagem indevida relacionados a contratos da construtora com a Petrobras.
Segundo Eduardo Leite afirmou no depoimento, Vaccari perguntou se não havia interesse em "liquidar esses pagamentos mediante doações eleitorais oficiais". De acordo com o executivo, o valor era certamente superior a R$ 10 milhões. Mas ele não esclareceu no depoimento se as doações foram efetivamente realizadas.

Segundo o Ministério Público Federal, Vaccari indicava para quais contas de diretórios do partido deveriam ser feitas as doações.

O JN não conseguiu contato com Eduardo Leite, e a Camargo Corrêa não respondeu ao e-mail enviado pela produção.


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