Foi tudo muito bem orquestrado. Depois de um início de ano repleto de notícias tenebrosas em muitos aspetos sociais e econômicos, o brasileiro viu neste Carnaval um oásis de tranquilidade.
Até a revista semanal Veja escreveu na capa “Para Abrir só depois do Carnaval”. Durante 4 dias, só o samba importou. Mas sem tempo para regressar com calma à realidade, o brasileiro deparou-se na noite de terça-feira com a propaganda, absolutamente enigmática, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).
O anúncio, com a participação das principais caras do partido, traz uma mensagem que deve ter deixado Dilma de cabelos em pé: “No dia 26, às 20h30, em rede nacional, você vai saber o que o PMDB tem a dizer para o Brasil”.
O Movimento Democrático Brasileiro surgiu após o golpe militar de 64, como o partido que reunia todos aqueles que eram contra o regime militar. O MDB manteve-se ativo até ao fim da ditadura, quando foi permitida a formação de novos partidos políticos.
Aqui surgiu o PMDB. Desde então, o partido orgulha-se de ter sido o alicerce da democracia durante todo o período comandado pelos generais.
No período democrático, o PMDB foi-se tornando, aos poucos, num partido sem muita identidade. Talvez por representar apenas a democarcia em contraponto à ditadura, acabou por não conseguir defender nem a direita, nem a esquerda. Mas a partir do governo Lula da Silva, o PMDB começou a costurar a sua principal aliança.
O partido fez uma coligação com o governo petista e aos poucos conquistou ministérios e as presidências do Senado e da Câmara de Deputados. A importância política do PMDB para o PT passou a ser tal, que nas duas candidaturas de Dilma, Michel Temer, líder do PMDB, foi escolhido como vice-presidente. No entanto, depois de muito atuar num papel secundário, o PMDB mudou de estratégia.
A vitória apertada de Dilma contra Aécio, aliada ao arrefecimento político do PT, fez com que o PMDB começasse a cobrar “mais caro” o seu apoio.
Em janeiro, assistimos a um braço de ferro para ver quem seria indicado à candidatura da Câmara dos Deputados. Num primeiro sinal de rompimento com o PT, ambos os partidos lançaram candidatos e quem venceu foi o PMDB. E este é o momento atual do partido.
Um partido que conta com a vice-presidência do Brasil, a presidência do Senado e da Câmara dos Deputados, seis ministérios, além do maior número de governos estaduais (Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e outros seis).
No meio da profunda fragilidade política de Dilma, o que será que o PMDB tem a dizer ao Brasil?
Onde há fumo, há fogo, mas só no dia 26 saberemos realmente o que o PMDB prepara. É possível que o partido queira lavar as suas mãos porque se, de facto, surgirem indícios de envolvimento direto de Dilma em algum caso de corrupção, a sua situação política será insustentável.
Neste caso, o Governo cai no colo do PMDB. Em surdina, os brasileiros questionam-se sobre o que vem aí. Na internet há poucas manifestações sobre o assunto. Estranho.
Não consigo deixar de pensar no que leva o partido da coligação a anunciar que vai anunciar alguma coisa daqui a 10 dias.
Será apenas uma estratégia para conseguir alguma coisa do PT, no entretanto, ou caminhamos mesmo para a queda de Dilma? Aguardo com expectativa o dia 26, onde tudo ou nada pode acontecer.
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